Uma das viagens que eu mais queria fazer no Brasil era o roteiro de cidades históricas de Minas Gerais. Em 2017, decidi tirar o plano do papel: eu e meu namorado pegamos um feriadão e fizemos 3 cidades em uma mesma viagem: São João del Rei, Tiradentes e Congonhas (por causa das esculturas dos 12 profetas de Aleijadinho, porque a cidade, em si, não é lá muito atrativa).
A viagem ocorreu maravilhosamente bem até chegarmos ao último destino. Primeiro que chegar até a Igreja dos Matosinhos, onde ficam as estátuas dos 12 profetas, não é tarefa muito fácil pra quem não está de carro: descemos na rodoviária de Congonhas vindos de São João del Rei, andamos um bom pedaço achando que dava pra chegar à igreja a pé, desistimos, pegamos um ônibus e só chegamos quase no pôr do sol (o que rendeu belas fotos, aliás). Voltaríamos a São Paulo de Congonhas mesmo, então não podíamos perder muito tempo, pois tínhamos hora pra voltar para não perder o ônibus.
Muitas voltas e fotos depois, estava na hora de voltar. Perguntamos onde ficava o ponto para pegarmos o ônibus que nos levaria de volta à rodoviária; fomos ao local indicado e esperamos. Esperamos. Esperamos. E a hora passando. E nada de ônibus. Até que uma moça nos viu lá e disse que os ônibus não estavam passando por conta de um festival da cerveja que estava tendo lá e nos indicou outro lugar pra pegar o ônibus (só pra adiantar, não tinha uber nem táxi nas proximidades).
Muito que bem. Fomos ao outro ponto e um senhor viu que estávamos claramente perdidos e, meio confuso, mas com boas intenções, disse que o melhor mesmo era pegar um táxi. Mas aquele não era, definitivamente, um lugar em que havia pontos de táxi. Então o senhor confuso com boas intenções nos levou até um mercadinho e disse para a moça do caixa que ligasse para um homem que fazia esse tipo de serviço na informalidade mesmo.
Resumindo: a moça super nos ajudou, ligou para o “taxista” que chegou lá em alguns minutos e nos levou para a rodoviária por módicos 20 reais. Fim da história? Nananinanão.
Abre parênteses: quando se compra passagem de ônibus online, a gente imprime um voucher e a troca pela passagem propriamente dita é feita no guichê da empresa de ônibus na rodoviária mesmo. Fizemos isso em várias rodoviárias por aí e achamos que em Congonhas seria a mesma coisa. Fecha parênteses.
Bom, chegamos à rodoviária ainda com bastante tempo (dica: nunca, jamais fique turistando até o último minuto se você tiver passagem de ônibus / avião / trem marcada, porque nunca se sabe os perrengues que nos esperam). E começamos a procurar na maior inocência o guichê da empresa de ônibus para trocar os vouchers pelas passagens. A questão é que simplesmente não existia esse guichê e, quando começamos a perguntar para as pessoas dali por onde chegava o ônibus que iria para São Paulo, a resposta foi categórica: não havia ônibus que saía de Congonhas e ia para São Paulo. Supostamente nós precisaríamos ir até Conselheiro Lafaiete e de lá pegar um ônibus para São Paulo. Desesperada, eu cheguei a botar um pé no degrau do ônibus para Conselheiro Lafaiete, que estava saindo naquele instante, mas o bom senso e meu namorado me fizeram desistir da ideia. (dica 2: não tome decisões no desespero, isso pode piorar muito as coisas)
Um pouco mais calma, resolvi ligar para a central de atendimento da empresa do ônibus para tirar satisfação, pois eu me recusava a acreditar que tinha comprado uma passagem cujo trajeto não existia. Depois de longos minutos no telefone com um moço bem intencionado, mas mal informado, recebi um super e útil conselho: perguntar para os motoristas de ônibus que paravam ali se existia esse tal de ônibus que fazia o trajeto Congonhas – SP (!!!). Entrei no primeiro ônibus que vi e fiz a pergunta a queima roupa para a cobradora: “Moça, você sabe se daqui sai ônibus para São Paulo?”. Ela disse que sim, mas que provavelmente estava atrasado.
Aliviados, esperamos mais uma meia hora, com muito frio, o tal do ônibus. Ainda passava coisas pela minha cabeça do tipo “e se esse ônibus não vier?”, “se eu precisar dormir nessa rodoviária vou morrer de frio”, “será que tem hotel por aqui?”. E eis que chega um ônibus que não era da empresa, mas que ia para São Paulo. Meu namorado estava descrente e achou melhor esperar por outro ônibus, o da empresa mesmo, mas eu estava determinada a sair daquela cidade imediatamente.
Fui falar com o motorista decidida a entrar naquele ônibus de qualquer jeito, com o pé na escada e tudo. Expliquei que só tínhamos os vouchers porque ali naquela rodoviária não havia guichê da empresa para fazer a troca pelas passagens e que eu tinha falado com a central de atendimento que disse que eu podia embarcar só com aquele papel mesmo (era mentira, mas soou convincente). O motorista ficou desconfiado, meio confuso, mas aceitou os papeis e fez uma passagem improvisada na hora. 9 horas depois, estávamos sãos e salvos em casa.
Pois bem. Até hoje eu não entendi algumas coisas:
1 – como é possível que as pessoas da cidade não soubessem que dali saía ônibus para São Paulo? Tipo, é SÃO PAULO. E não uma cidade perdida por aí.
2 – como é possível que a Central de Atendimento da empresa que faz o trajeto também não soubesse disso?
3 – Onde as pessoas que estavam na rodoviária e também pegariam o ônibus para SP trocaram seus vouchers?
Mistérios & perrengues, a gente se vê por aqui.